Aylton Escobar

Laureado por criações dedicadas ao Teatro, ao Cinema e às grandes Salas de Concerto, muitas vezes distinguido pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), constando em verbetes de enciclopédias nacionais e estrangeiras, Escobar é membro da Academia Brasileira de Música. 

Entre os seus mestres destacam-se Magda Tagliaferro, Camargo Guarnieri, Vladímir Ussachevsky e Mario Davidovsky. 

Foi Diretor da Escola de Música Villa-Lobos no Rio de Janeiro, da Universidade Livre de Música, hoje EMESP, e dos Festivais Internacionais em Campos do Jordão, Regente Titular e Diretor Artístico de importantes Orquestras brasileiras (Sinfônicas de Minas Gerais, de Campinas, na Paraíba “Norte-Nordeste”) e também regente convidado enquanto excursionava pela América Latina. No Palácio das Artes em Belo Horizonte e no Theatro Municipal de São Paulo destacou-se pela crítica especializada na regência da ópera “O Castelo do Barba Azul”, de Bela Bartók. 

Em 2009 participou das séries de Música Contemporânea da Bélgica com especiais premières e em 2011 foi honrado com a Comenda do Mérito Cultural Carlos Gomes. 

Professor Doutor pela Universidade de São Paulo, Escobar dedicou-se, por mais de duas décadas, às disciplinas de Composição e Regência do Departamento de Música da ECA/USP. 

O ano de 2013 o honrou com vários eventos: na Alemanha; no Brasil, o lançamento de CD do Coral da Osesp sob a regência de Naomi Munakata. Durante o Festival Internacional em Campos do Jordão foi honrado como “compositor em destaque”. Em 2015/17 e 18, com novas estreias. Nesse período, visitou a República Tcheca e a Alemanha; na última, como membro do Júri do Concurso Internacional de Música de Câmara, na Escola Superior de Música de Karlsruhe.

Recentemente Escobar recebeu homenagens do Grupo Hespérides de São Paulo, gravando em som e imagem nove obras do seu repertório camerístico, e da OSESP, que comissionou várias das suas partituras (uma das quais, sobre texto de Fernando Pessoa, em parceria com a Fundação Gulbenkian de Lisboa). Foram reverenciados os seus 80 anos de vida, em atividade profissional há sessenta deles, através da mobilização do Coro e da Orquestra com Solistas sob a regência do maestro Thierry Fischer.

Lycia De Biase Bidart

Lycia De Biase Bidart nasceu na cidade de Muniz Freire, no interior do estado do Espírito Santo, no dia 18 de fevereiro de 1910. Sua família mudou-se para Vitória quando Lycia ainda era um bebê, e lá mantiveram duas residências: uma no Parque Moscoso e outra na Praia Comprida (atual Praia do Canto). 

Desde a infância, Lycia recebeu instrução escolar em casa e iniciou cedo os estudos de piano. tendo sido orientada pelo o uruguaio Luiz Quesada, ex-discípulo de Claude Debussy. Aos 11 anos, apresentou-se em uma audição interpretando Pour vous charmer op. 95, de H. Van Gael.

Já adolescente, revelava paixão absoluta pela música de concerto. Aos 18 anos, Lycia mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar composição com o maestro italiano Giovanni Giannetti. 

A década de 1930 marcou o auge de sua carreira, com participações no Theatro Municipal do Rio e no Teatro Glória, em Vitória, ora como pianista e regente, ora apresentando composições próprias, sempre ao lado de Giannetti. Entre esses eventos, destacou-se o concerto de 1932 no Teatro Glória, em benefício das obras da Catedral de Vitória. Sob direção de Giannetti, o programa incluiu quatro composições de Lycia: Prelúdio em Ré menor, Prelúdio em Fá maior, Ave Maria e Vorrei Dirti. Foi um marco cultural para a cidade, projetando a jovem compositora como motivo de orgulho capixaba. A repercussão contribuiu também para a fundação da Sociedade Musical Espírito-Santense, que ampliou a oferta de concertos na capital ao longo da década.

Em 1933, Lycia casou-se e teve duas filhas, Lúcia e Cecília. No ano seguinte perdeu seu mestre Giannetti, e afastou-se dos grandes palcos. Em casa, continuou compondo diariamente, escrevendo por horas à mesa, enquanto filhos e netos brincavam ao seu redor. Sua atuação pública passou a ser esporádica, restrita a saraus, concursos e algumas estreias ocasionais. Mesmo assim, construiu um legado impressionante: mais de 400 composições, doadas por ela mesma à Biblioteca da ECA/USP, hoje digitalizadas e acessíveis a pesquisadores.

Inspirava-se em livros, poemas, paisagens e vivências, criando uma obra que entrelaça memória, afeto e espiritualidade.

Lycia faleceu no Rio de Janeiro, em 1991, aos 81 anos. Católica, cultivava a oração, o cuidado com o jardim e as celebrações familiares. Para além de seu talento artístico, permaneceu na memória como mãe amorosa e avó dedicada. Suas composições seguem como testemunho de sua trajetória e expressão da cultura capixaba, terra que nunca deixou de habitar sua vida e sua música.

Tayná Lorenção